quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Sobre a evolução recente do número de divórcios por 100 casamentos


      Ao longo dos últimos anos, uma das coisas que mais me tem dado vontade de rir (para não chorar) é ouvir os conservadores norte-americanos a lamentar-se porque cerca metade dos casamentos nos EUA acabam em divórcio.

E porquê é que me dá vontade de rir (insisto, para não chorar)? Porque qualquer pessoa que siga atentamente a realidade portuguesa saberá que nós estamos pior, mas muito pior do que os norte-americanos. Eu tenho referido muitas vezes aqui no TU o número de divórcios por 100 casamentos, um indicador publicado anualmente pela Pordata com base em estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE). 
 
Esse indicador tinha ultrapassado os 70 divórcios por 100 casamentos nos tempos em que o Passos Coelho era primeiro-ministro, mas parecia ter estabilizado na casa dos 60 divórcios por 100 casamentos nos últimos anos. Um número escandaloso, mas nada que se compare àquele que foi recentemente divulgado para 2020: 91,5 divórcios para cada 100 casamentos!
 


Pensem bem no que este número significa: para cada 10 casamentos celebrados em 2020, houve mais de 9 divórcios! Ou seja, os portugueses estão a divorciar-se quase tanto como se estão a casar!

E porquê este salto repentino dos divórcios em 2020 em relação ao 2019? Passar de 61,4 divórcios por 100 casamentos em 2019 para 91,5 divórcios em 100 casamentos em 2020 (aumento de quase 49%) não pode ser explicado apenas pela Covid-19...

Uma explicação que tenho ouvido muitas vezes é que "as pessoas já não casam tanto como antigamente", pelo que o número de divórcios tenderá a superar o número de casamentos nos próximos anos. Mas eu tenho sérias dúvidas de que seja apenas isso...

E uma coisa é certa: seja qual for a explicação, estes números mostram um declínio acentuado da instituição do matrimónio na sociedade portuguesa. O que é péssimo para a sobrevivência do nosso povo, porque onde o casamento entra em colapso, a natalidade tende a implodir...