«Duas peças de órgão atribuídas a Johann Sebastian Bach [1685-1750] voltaram a ser ouvidas nesta segunda-feira [19-Nov-2025] mais de três séculos após terem sido compostas. As peças, duas chaconas (uma forma musical barroca que geralmente consiste numa série de variações sobre um padrão melódico de baixo repetido) em ré menor (BWV 1178) e em sol menor (BWV 1179), foram apresentadas em Leipzig, na igreja de São Tomás, onde o compositor trabalhou e está sepultado.A confirmação de que as duas peças eram realmente de Bach marca o fim de uma investigação que durou mais de 30 anos e que permitiu atribuí-las ao compositor depois de décadas de dúvida.
Os manuscritos foram encontrados em 1992 na Biblioteca Real da Bélgica, em Bruxelas, sem data nem assinatura. À época, o musicólogo Peter Wollny — hoje diretor do Arquivo Bach, em Leipzig — identificou elementos estilísticos que sugeriam a mão do compositor, mas faltava a confirmação definitiva. Ao longo dos anos, reuniu cerca de 20 “pistas” que apontavam para Bach, mas a identidade do copista que tinha escrito a partitura continuava a ser o ponto em falta.
A viragem aconteceu quando o co-investigador Bernd Koska encontrou uma carta de 1729, escrita com uma caligrafia semelhante à dos manuscritos. O autor era um organista praticamente desconhecido, Salomon Günther John, que afirmava ter sido aluno de Bach em Arnstadt, na Turíngia. Faltava apenas comprovar que o mesmo músico tinha copiado as obras. Esse passo só foi possível quando os investigadores localizaram um documento judicial, mais antigo, que exibia a mesma escrita — permitindo concluir que John tinha copiado as peças em 1705 sob a orientação de Bach.
Com o último elemento confirmado, Wollny não deixou margem para dúvidas. “Procurei durante muito tempo a peça que faltava no puzzle — agora a imagem está completa”, afirmou na apresentação pública na segunda-feira. “Estou 99,99% certo de que Bach compôs estas duas obras.” As chaconas foram imediatamente integradas no catálogo oficial do compositor.
Segundo Wollny, as peças são “altamente individuais” e revelam ferramentas de composição que só aparecem na obra de Bach desta época. A pianista Angela Hewitt, especialista na obra do compositor, descreveu-as ao Guardian como peças “substanciais”, marcadas pela imaginação e pela energia típicas do jovem Bach.
A estreia moderna ficou a cargo do organista holandês Ton Koopman, que interpretou as duas obras em Leipzig, conta a BBC. O músico afirmou sentir orgulho por tocar composições que, acredita, passarão a ser tocadas regularmente. “Quando pensamos nos jovens Bach ou Mozart, assume-se muitas vezes que o génio aparece mais tarde — mas não é verdade”, disse à AFP, a agência noticiosa francesa.
Wolfram Weimer, ministro alemão da Cultura, classificou a descoberta como um “grande momento para o mundo da música”. Para os investigadores, representa mais do que a recuperação de duas obras esquecidas: é a revelação de uma nova peça do talento precoce de Bach, preservada durante 320 anos à espera de reencontrar o público.»
Devo dizer que não gosto nada do registo de órgão escolhido pelo Sr. Koopman. Sendo a primeira vez que a peça é apresentada ao público moderno, ele devia ter optado por uma combinação de tubos que permitisse discernir melhor entre as diferentes vozes em cada obra. Mas paciência, vou ver se deito mãos às partituras. Cada obra de Bach é um verdadeiro tesouro musical, no sentido em que se aprende mais a estudá-las do que em muitas escolas de música. E hoje ganhámos não um, mas dois novos tesouros para descobrir. Como ele próprio escrevia no final das suas obras, soli Deo gloria!
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